sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Prezado Leitor,

Semanalmente vs reproduzir entrevistas de ex jogadores..hj segue uma do Vampeta..

Editores do Blog,

Do R7,
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Qual são seus projetos, Vampeta? E por que ser político?
Vou ser bem sincero contigo. Eu não posso falar dos meus projetos porque posso ter a minha candidatura cassada. Só posso fazer campanha para valer três meses antes da eleição. Mas vou quero trabalhar com esporte e educação. Há muita coisa a ser feita no nosso país. Não vou entrar mais a fundo porque não posso. Eu mesmo acabei de ganhar oito mil santinhos, panfletos com o meu rosto, explicando a minha candidatura. Eu falei para o meu amigo: ‘Pelo amor de Deus, guarda isso aí. Se um só sair por aí, vou ter a minha candidatura cassada. Agora não pode”. (ri muito) Agora, ser político é não ficar de mãos amarradas quando você pode fazer alguma coisa pela sociedade. Graças a Deus, eu tenho as minhas coisas. Guardei bem o que ganhei. Meu interesse é fazer algo de útil, ajudar a melhorar o meu país.

Como é que você vê as candidaturas de outros ex-jogadores?
Acho que todos têm direito como cidadão. O Romário, o Edmundo, o Marcelinho Carioca, o Vanderlei Luxemburgo e muitos outros.Agora, eu quero cornetar o Marcelinho Carioca e o Edmundo. Mal entraram na política e esses dois já trocaram de partido. Não é um bom começo. São meus amigos, mas não é assim, não. (ri). Mas eu preciso mesmo falar é do Vanderlei Luxemburgo. Meu amigão, mas já está muito convencido. Está dizendo para todos que vai ganhar a vaga de senador da República por Tocantins. Eu gosto muito do Vanderlei, mas é por isso que ele é tão amado e tão odiado. Quando ele consegue uma coisa ele ‘cresce’, fica cheio de marra, quer mostrar que é melhor que todo mundo. Por isso muita gente não o suporta. Eu já falei, muita gente amiga já falou com ele, mas o Vanderlei não consegue mudar. Agora só fala que será senador. Isso é muito perigoso antes de uma eleição.

Vampeta, falando em Brasília, revele, por favor, todos os detalhes daquelas cambalhotas no Planalto?
Vou falar tudo, sem medo. Nós tínhamos um amigo que ia nos visitar na concentração no Japão. Ele era um maluco do bem. O Felipão deixava ele conviver com a gente porque era um sujeito muito alto astral, brincalhão. Ele dava sempre uma cambalhota quando via um jogador da Seleção. Eu falei para todos que, se o Brasil ganhasse a Copa, eu iria fazer uma homenagem a ele em Brasília. Os jogadores duvidaram, falaram que eu iria pipocar para o presidente Fernando Henrique. Bom, ganhamos a Copa. Assim que acabou o jogo eu fiquei feliz demais. Pensei: “Sou campeão do mundo. Entrei para a história”. Fiquei empolgadão. E passei a beber. Não dormi depois da partida comemorando. Bebi do Japão até o Brasil. Quando chegamos em Brasília, foi aquela sacanagem de todos os jogadores: “quero ver, você não é homem, vai pipocar”. Eu já estava mais do que decidido. Peguei minha medalha e não tive dúvidas, rolei para baixo, com o maior gosto. Fiz a homenagem, todo mundo riu. E ainda depois vivi a cena mais feliz da minha carreira como jogador.

Qual foi?
Depois que desfilamos em Brasília, teria de voltar para São Paulo. Eu era jogador do Corinthians. Mas o Antônio Carlos Magalhães, que era macho para burro, mandou um jatinho para os baianos do grupo desfilarem em Salvador. Foi o que eu fiz. Até porque eu ‘apaguei’ quando entrei no jatinho. Acordei em Salvador. Mas o melhor veio depois, quando desfilei sozinho em Nazaré das Farinhas, a cidade onde nasci. Era o caminhão de bombeiros, eu sendo aplaudido pela cidade inteira, cercado de motoboys buzinando, uma loucura. Foi uma felicidade imensa, uma cena surreal, inesquecível.

Outra história que ficou famosa foi a que você bebeu os vinhos que o Papa João Paulo havia dado ao Ronaldo…
Ah. Essa foi hilária. Eu jogava no PSV com ele. O Ronaldo morava na cobertura e eu no sétimo andar de um prédio dos jogadores do PSV. Ele teve de vir para o Brasil cuidar do joelho. Eu sabia que ele tinha uma adega no apartamento. Eu tinha trazido um cantor de MPB de Nazaré das Farinhas. Subi na cobertura do Ronaldo para conversar com uns amigos, ouvir música e tomar vinho do Ronaldo. Os outros amigos meus também eram de Nazaré e, como eu, cresceram tomando vinho barato, Dom Bosco, Sangue de Boi, essas coisas. Um amigo entrou na adega e viu uns vinhos separados. Ele abriu e não gostou, falou que estavam estragados e jogou fora. Os vinhos foram dados pelo Papa ao Ronaldo. Ele ficou louco comigo quando viu as garrafas vazias. Até hoje ele me cobra 6 mil dólares. Se quando eu jogava não paguei, agora que parei é que não pago mais. (ri)

Mas a sua carreira não tem só conquistas e sorrisos. E o rebaixamento do Corinthians?
Essa é uma história que eu falei muito pouco na minha vida. E me deixa puto até hoje, não me conformo. Eu errei ao ter aceitado jogar em uma equipe que era tecnicamente fraca. Estava acima do peso e fiz um regime enorme para ficar em boa condição. Mas mesmo acima do peso estava melhor do que muita gente. Só entrei na 22ª rodada. Eu via que as coisas estavam ruins. E adoro o Nelsinho Baptista, mas ele cometeu um erro fatal. Ele não me deixou jogar os 90 minutos da partida contra o Vasco no Pacaembu. Só entrei faltando 15 minutos. Perdemos aquela partida. Se eu tivesse começado o jogo, o Corinthians não seria rebaixado. O Vasco não tinha mais nenhum interesse no Brasileiro. Eu teria incendiado o nosso time. Joguei a última partida contra o Grêmio. Meti a bola para o Carlos Alberto cruzar para o Clodoaldo marcar. Mas não tivemos força para segurar a vitória. Foi terrível. Essa história me dá raiva até hoje. Sou corintiano e sofri muito com o rebaixamento.

Depois você encerrou a sua carreira no Juventus. De uma maneira estranha, ninguém soube o que aconteceu…
Você está com sorte. Vou falar pela primeira vez a maluquice que foi o meu fim de carreira. Depois do rebaixamento do Corinthians, eu voltei para a Bahia. Falei para mim mesmo: não quero mais saber de futebol. Acabou. Fiquei triste, deprimido. Minha casa, graças a Deus, é muito confortável e grande. Dois amigos de infância moram comigo. A diretoria do Juventus da rua Javari ficou ligando direto para mim. Mas eu não queria atender. Os dirigentes falaram tanto com meus amigos que prometeram a eles 10% do meu contrato se jogasse no Juventus. Os dois ficaram taão empolgados, me encheram tanto, me atormentaram que eu acabei aceitando. O técnico era o Márcio Bittencourt, muito meu amigo. Ele falou que o time era bom e eu iria gostar. Mas ele ficou só uma partida. O puto recebeu proposta do Noroeste e me abandonou na mão. Entrou o Sérgio Soares, gente boa. Mas depois chegou o Fescina. Ele disse que o time tinha dois jogadores com 34 anos. Eu e o Fernando Diniz. Falou que, quando jogasse um, o outro ficaria no banco. Eu fiquei puto.

O que você fez, Vampeta?
Fiquei quieto que não sou de briga. Mas quando chegou uma partida na Javari, contra o América de Rio Preto, resolvi agir. O Fescina havia feito duas substituições. Vi que ele estava com aqueles óculos grossos olhando para o jogo. Ele mandou todos os reservas aquecerem. Eu fingi que fui e parei no meio de campo. Falei para o quarto árbitro que iria sair o 10, o Fernando Diniz. E entrei, sem ordem dele, de ninguém. Se ele gostou, não gostou, não me interessou. Depois daquele jogo, nunca mais voltei ao Juventus.Foi o meu final de carreira perfeito. Como disse o Sócrates: “Ninguém me convidou para essa festa. E resolvi sair dela sem chamar atenção”.

Você não tem nenhum arrependimento na carreira? Nem de ter dito que ‘fingia que jogava já que o Flamengo fingia que te pagava’?
Eu pensei muito nessa situação e acho que tenho de, depois de tanto tempo, pedir desculpas à torcida do Flamengo. Ela deve ter ficado muito magoada comigo. Eu quis atingir a diretoria, os dirigentes enrolões, incompetentes, mentirosos que comandavam o Flamengo na época. E errei. Atingi os torcedores do Flamengo. A frase foi errada até porque treinei muito na Gávea. Eu estava chateado, puto com os três meses de salários que me deviam. Não soube demonstrar a minha raiva.

E você também deve desculpas à torcida do São Paulo por apelidar o são paulino de bambi?
Acho que se o Corinthians adotou o gambá, o Santos adotou a baleia, o Palmeiras o porco, o São Paulo tem de adotar o seu animal. (ri muito) O apelido veio por causa da rivalidade nossa, do Corinthians com eles. Fizemos grandes jogos. Mas eu não tenho culpa se pegou. Depois encontrei o Júlio Baptista e o Kaká tomando sorvete juntos. E falei que aquilo era coisa de bambi mesmo. Jogador toma cerveja, não sorvetinho. Se o apelido de bambi pegou não posso fazer nada. (ri outra vez)

Você tem saudade da carreira de jogador?
Tenho saudade do companheirismo, dos treinamentos, dos jogos. Mas, não quero mais, não. Estou sete quilos acima do peso. O Flamengo de Guarulhos quer que eu volte. Outras equipes me procuraram, mas agora chega. Eu vou entrar na política para valer. E no futuro trabalhar como gerente de futebol. Não quero ser técnico. Não quero voltar a ficar escravo dos times. Sei fazer amigos e como lidar com as situações boas e ruins do futebol. Mas isso só depois da política. Estou entrando com vontade mesmo de fazer algo de útil ao Brasil. E vou ser eleito. Por corintianos, palmeirenses, santistas e, por que não?, são paulinos.

Se não fosse o futebol o que seria da sua vida em Nazaré das Farinhas?
Eu seria o Marcos, um ótimo contador. Porque sou inteligente e sei lidar muito bem com os números. Mas, graças a Deus, tive talento e sorte para ser jogador de futebol. Sou muito grato a tudo o que a vida me deu. Apesar de todas as brincadeiras, provocações, não tenho um inimigo no futebol. A gente está nesta vida é para ser feliz…